Incêndio florestal já é considerado a maior tragédia do século XXI em Portugal

4 jul, 2017Working on Fire Brasil

Painel Florestal convidou a Working on Fire Brazil para um debate muito importante. Os incêndios florestais estão aumentando em todo o mundo, antes de mais nada gostaríamos de parabenizar os bombeiros que enfrentaram as chamas. Gostaríamos ainda de expressar as nossas condolências aos povo português por esta tragédia. “Fiquem firmes e mantenham-se seguros no importante e heróico trabalho de combate a incêndios florestais”, disse Daniel Santos, da Working on Fire Brasil.

O incêndio florestal que devastou a vila de Pedrógão Grande, localizado na Leiria, região central de Portugal, não apenas deixou o mundo perplexo e comovido pela morte de 64 pessoas, até o momento, incluindo uma criança de quatro anos e quatro bombeiros, além de outras 134 pessoas feridas, mas abriu um precedente perigoso na questão da proteção do meio ambiente, por meio da preservação das florestas nativas e das florestas comerciais produtivas.

Como a causa do incêndio, segundo o governo português, foi “natural” e motivada por um raio oriundo de uma trovoada seca, ou seja, quando as chuvas evaporam antes mesmo de chegar ao solo, uma pergunta está no ar desde o fim de semana: existe algum país com indústria de base florestal forte capaz de conter um incêndio de grandes proporções? A pergunta deve seguir sem uma resposta objetiva por um bom tempo, mas vai suscitar debates calorosos em todos os continentes e reacender o grito de organizações não governamentais sobre os fatores, causas e consequências do efeito estufa.

Há pelo menos 35 focos de incêndios que ainda estão fora de controle, 1.124 bombeiros trabalhando sem parar e 352 viaturas em ação, além de dez aeronaves – a maior parte cedida por países vizinhos, como Espanha, França e Itália – na tentativa de conter a fúria das chamas, isso sem contar com uma combinação assustadora de fatores climáticos: baixa umidade e temperatura em torno dos 40 graus. Ninguém sabe ao certo quando fogo será contido e o pior: quantas pessoas realmente morreram ou ainda correm risco de serem atingidas pelas chamas que continuam a arder e a devastar Portugal.

O diretor executivo do Painel Florestal, Robson Trevisan, está acompanhando cada detalhe desta tragédia portuguesa e criando uma rede de debates nas redes sociais que, por enquanto, não surtiu grandes efeitos além de mensagens de fé e esperança nas opiniões de quem trabalha ou convive de alguma forma no setor florestal. Atônito, Trevisan diz apenas que as chamadas causas naturais afirmadas pelo governo português diante do maior incêndio florestal do país silenciaram a manifestação de opiniões de profissionais atuantes no setor, na certeza que mais uma vez a fúria da natureza evidenciou – de forma incisiva e explícita – a impotência e fraqueza humanas. Contudo, deve provocar mudanças nas legislações ambientais e criação de sistemas que visem a combater ou prevenir, pelo menos para amenizar, este tipo de tragédia.

No Estado de Mato Grosso do Sul, Reflore intensifica campanha de combate a incêndios florestais

A Associação Sul-Mato-Grossense de Produtores e Consumidores de Florestas Plantadas (Reflore/MS) está realizando a quinta campanha de prevenção de incêndios florestais desde abril. O motivo: de maio a setembro é o período de maior propagação de incêndios florestais, comumente proporcionado por um outono e um inverno de clima seco. No Estado, segundo dados do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Renováveis (Ibama), 90% dos incêndios são provocados pela ação humana, podendo ser de forma acidental, proposital e até mesmo por negligência.

O presidente da Reflore/MS, Moacir Reis, destaca que o maior objetivo da campanha é criar – na população – a cultura da prevenção. Reis enfatiza que a campanha vem tomando ‘corpo’ e que o nível de sensibilização tem se elevado anualmente. “As pessoas estão entendendo a importância do setor florestal, que é fundamental para o meio ambiente e que também gera emprego e renda para uma população cada vez maior”, explica Reis. Este ano, Mato Grosso do Sul atingiu a marca de um milhão de hectares com florestas plantadas – um número que deve crescer nos próximos anos, já que a previsão das indústrias de celulose é de aumento e até duplicação do volume de produção, visando principalmente o mercado asiático.

Para Moacir Reis, uma das maneiras de combater os incêndios florestais é por meio de capacitação de mão de obra, além do investimento em máquinas e equipamentos. Ele diz ainda que alguns municípios do Estado possuem estrutura de combate razoável, porém, há casos em que a precariedade predomina. Reis não quis apontar quais municípios estão em maior ou menor nível para combater incêndios florestais, mas deixou claro que há um esforço cada vez maior de prefeituras e do governo do Estado em trabalhar na prevenção e em promover, junto com a Reflore/MS, campanhas mais intensas contra incêndios florestais. Em 2016, foram registrados 6.967 focos de incêndios em Mato Grosso do Sul, segundo dados do Ibama. Este número é 31% maior que o de 2015.

Perplexo com o nível de devastação do incêndio em Pedrógão Grande, Moacir Reis recorda que o governo português cometeu ações que, neste momento, proporcionado principalmente pela morte de dezenas de pessoas, o recuo nos investimentos em prevenção de incêndios ficará destacado quando as autoridades – de poderes distintos – começarem a procurar os culpados pela tragédia provocada por um raio numa época de elevada temperatura e de clima muito seco nesta região de Portugal. “De uma maneira genérica, sabemos apenas que houve uma desativação de bases de combate a incêndios por lá. Entretanto, agora é hora de apagar o incêndio e torcer que não haja mais pessoas vitimadas nesta tragédia”, lamenta Reis.

Executivo da Working on Fire no Brasil acredita que investimentos em prevenção a incêndios entrarão em pauta nas empresas e nos governos

Daniel Santos, executivo da Working on Fire no Brasil, avalia que o setor de base florestal está diante de uma questão complexa, mesmo sendo uma das principais fontes de combate a este tipo de tragédia ambiental, cujas proporções são exponencializadas pelo número de vidas ceifadas. Santos acredita que este incêndio provavelmente tenha sido provocado naturalmente pela própria estação do ano e também pela geografia montanhosa da região, o que dificulta o combate e potencializa o fogo.

Ele relembra que em um evento promovido pela Universidade Federal de Viçosa (UFV), em Minas Gerais, um bombeiro português dissera – em palestra – que 80% dos incêndios florestais registrados na Europa são oriundos de Portugal nesta época do ano, no verão do velho continente. “O clima quente e seco numa região montanhosa faz o fogo se alastrar muito rápido. Se a região atingida fosse plana, o fogo também se alastraria, porém, numa velocidade menor e o controle seria menos dificultoso. Além disso, como Portugal é um país de território pequeno, a interface urbano-florestal é mais nítida, ou seja, as chances de perdas de vidas humanas são maiores”, analisa.

O executivo da Working on Fire recorda que recentemente outros países registraram grandes incêndios florestais, como Chile, Estados Unidos e Canadá. Para Daniel Santos, a grande questão é como mobilizar um grande número de combatentes do fogo, junto com as máquinas e equipamentos necessários a este tipo de ação. Mesmo assim, ele reforça que o número de ocorrências de incêndios florestais está aumentando, embora as técnicas de combate de hoje sejam eficazes, todavia, passam a ser procuradas – por governos e grandes empresas – depois de acontecimentos marcantes.

Santos lembra que dois anos antes do incêndio florestal no Chile, ocorrido em janeiro deste ano, um especialista australiano havia feito o alerta. Austrália e África do Sul são países com indústrias florestais fortalecidas e que evoluíram nas técnicas de combate a incêndios – com treinamento e capacitação de mão de obra, com uso de materiais químicos eficazes, além de equipamentos e máquinas, incluindo o uso de aeronaves. Na África do Sul, por exemplo, o governo fez uma espécie de ‘bolsa família florestal’ que resultou na criação de um grande exército de brigadistas e bombeiros civis para este tipo de combate de incêndios. Hoje, a África do Sul tem cerca de seis mil brigadistas e o Chile, depois da tragédia, já tem mais de 1,5 mil.

De acordo com Daniel Santos, há técnicas de queimas controladas nos períodos em que o risco de incêndio florestal é menor. Este tipo de estratégia faz reduzir o material combustível das florestas, podendo minimizar o risco de incêndios florestais de grandes proporções. “No mundo inteiro está havendo simpósios, congressos e seminários com a finalidade de desenvolver técnicas de queimas controladas com o intuito de diminuir o risco de propagação de incêndios nos períodos mais quentes e secos. No Brasil, o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) iniciou este trabalho, utilizando técnicas de queimas controladas no solo, mas há meios aéreos ainda mais eficientes”, destaca Santos.

Para o executivo da Working on Fire no Brasil, faltou uma ação preventiva mais forte em Portugal. Já no caso do Brasil, Daniel Santos avalia que o risco de um grande incêndio florestalexiste, embora seja bem menor se comparado a outros países de indústria florestal forte. “O que está em jogo é a questão do aquecimento global. Isso não é uma balela, é fato. As grandes empresas do setor florestal detêm meios de detecção de focos de incêndios eficientes, mas a forma de combater – caso aconteça – ainda é uma incógnita. Certo mesmo é que há empresas especializadas neste tipo de combate a incêndios, no caso, os florestais”, diz Santos.

O executivo observa, ainda, que a realidade do Brasil é melhor e vai melhorar com os grandes investimentos na mecanização da silvicultura, porque quem faz o plantio são pessoas treinadas no combate a incêndios florestais. Outra forma de prevenção adotada no Brasil são as pesquisas com novos clones mais fortes na tolerância a temperaturas elevadas e a baixos índices pluviométricos. Entretanto, Daniel Santos enfatiza que os governos precisam ‘abrir os olhos’ para as florestas nativas e fazer uso de técnicas eficientes de combate a incêndios florestais, além de precisar rever a legislação quanto ao uso de compostos químicos utilizados com sucesso em todo o mundo, porém, com restrições e proibições no Brasil por motivos desprovidos de lógica racional.

Artigo original disponível aqui.

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